Ozônio como terapia complementar para Covid-19
Ozônio como terapia complementar para Covid-19

 Nota do Editor:
A entropia geral de todas as coisas apontam um passado cada vez mais próximo de um Design Inteligente . Neste contexto a   atmosfera do planeta Terra detinha maior concentração de oxigênio o que favorecia ainda mais as formas de vida, longevidade e controle de patógenos, vírus, bactérias, fungos . A oxigenação é fartamente citada na literatura como gerando múltiplos efeitos benéficos a saúde e diversas técnicas tem sido defendidas como ferramentas úteis nos tratamentos como câmaras hiperbáricas, ventiladores, balão de oxigênio e ozonioterapias.

 

 

 

Ozônio como terapia complementar no tratamento de COVID-19

Jorge Bomfim Fróes De Farias, Antonio Pedro Fróes De Farias, Anelize Gimenez De Souza

Publicado: 10 de maio de 2020
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício , Volume 19, pp 5-8; doi: 10.33233 /rbfe.v19i2.4116

 

O surgimento da síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2 (SARS-CoV-2) denominado de “coronavírus 2019” (COVID-19), se tornou uma ameaça para a população em geral e para os profissionais da saúde em todo o mundo [1]. O quadro clínico da COVID-19 é semelhante ao de outras viro- ses respiratórias, e incluem: febre, tosse geralmente seca, cansaço e, em casos mais graves, dispneia, sangramento pulmonar, linfopenia grave e insuficiên- cia renal [2].

Para o diagnóstico, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a coleta de amostras do trato respiratório superior ou inferior. No labora- tório, a amplificação do material genético extraído da amostra de saliva ou muco, é realizada por meio de uma transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase (RT-PCR), que envolve a síntese de uma molécula de DNA fita dupla a partir de um molde de RNA, na busca por partes conservadas do código genético do coronavírus. Em pacientes com diagnóstico confirma- do, o teste laboratorial deve ser repetido para avaliar a liberação de partículas virais, antes do mesmo sair do isolamento [3].

A manifestação clínica e gravidade da doença têm relação direta com a condição de saúde do indivíduo contaminado. Os sintomas podem ser leves, como em um resfriado ou gripe comum, ou evoluir para pneumonia. A tera- pia de suporte ventilatório como oxigenoterapia e/ou ventilação mecânica se mostra necessária como método de intervenção nos casos mais severos da doença [4]. Indivíduos com doenças respiratórias crônicas e outras comorbidades podem apresentar a forma mais grave da COVID-19 e, por este motivo, cuidados com a prevenção devem ser enfatizados [5].

Embora não exista tratamento antiviral específico recomendado e nenhuma vacina disponível, várias abordagens terapêuticas têm sido propostas, como: lopinavir/ritonavir [6]; cloroquina/hidroxicloroquina [7]; interferon alfa [8]; e o remdesivir, um inibidor da RNA polimerase com atividade in vitro contra vários vírus de RNA, que têm se mostrado eficaz em ensaios pré-clíni- cos na terapia de infecções por coronavírus [9].

Nesse momento de grave crise sanitária mundial, destacamos a possibilidade do uso do gás ozônio ou a ozonioterapia como adjuvante no trata- mento antiviral da COVID-19. O gás ozônio (O3) é uma molécula que consiste em três átomos de oxigênio em uma estrutura dinamicamente instável devido

àpresença de estados mesoméricos. O gás é incolor, com odor amargo e sua função básica é proteger os seres humanos dos efeitos nocivos da radiação ul- travioleta. O ozônio é um composto natural facilmente gerado in situ a partir do oxigênio ou do ar e se decompõe em oxigênio com uma meia-vida de cerca de 20 minutos [10,11].

A ozonioterapia é uma técnica que utiliza uma mistura gasosa oxigênio--ozônio para fins medicinais. Esta técnica parte do princípio de que o Ose dis- socia rapidamente e libera uma forma reativa de oxigênio que pode oxidar as cé- lulas, aumentando a disponibilidade de oxigênio e ATP para a atividade celular [11]. O ozônio aumenta a taxa de glicólise dos glóbulos vermelhos, estimulando o 2,3-difosfoglicerato, promovendo um aumento na quantidade de oxigênio liberado para os tecidos. Além disso, ativa o ciclo de Krebs, aprimorando a carbo- xilação oxidativa do piruvato, estimulando a produção de ATP. Também causa uma redução significativa do NADH e ajuda a oxidar o citocromo C. A produção de prostaciclina, um potente vasodilatador, também é induzida por O[10,12]. O ozônio pode ser considerado um pró-medicamento, uma vez que induz a ativação de uma cascata bioquímica com múltiplas ações antioxidantes

sistêmicas (Figura 1) [10,11]. Oreage com todas as biomoléculas das membra- nas celulares, incluindo lipídeos, proteínas, carboidratos e DNA [13]. O ácido graxo insaturado que é encontrado nos fosfolipídeos da membrana celular, re-

age com Opara gerar peróxido de hidrogênio (H2O2) e o aldeído 4-hidroxino- nenal (4-HNE). O H2Opromove a via do fator de transcrição Nrf2 e a síntese de proteínas, que favorecem a sobrevivência das células. A degradação do 4-HNE envia um sinal de estresse oxidativo transitório, ativando a síntese de várias substâncias de resposta ao estresse oxidativo celular como: y-glutamil trans- peptidase, proteína de choque térmico 70 (HSP-70), hemoglobina oxigenase-1 (HO-1); além de enzimas antioxidantes, tais como superóxido dismutase, glu- tationa peroxidase, catalase e glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PDH). Esse processo representa a base do fenômeno paradoxal, para o qual uma molécula oxidante, como o O3, desencadeia uma potente reação antioxidante [11-13].

A utilização do ozônio tem se mostrado capaz de inativar diferentes mi- cro-organismos, como bactérias, fungos e diferentes linhagens virais, incluindo o coronavírus [14]. O coronavírus é um vírus de RNA envelopado onde glicopro- teínas ricas em cisteína presentes no envelope viral auxiliam no reconhecimen- to por células hospedeiras [3]. A cisteína contém um grupo tiol ou sulfidrila (-SH) reduzido, essencial para fusão e entrada do vírus na célula. Os grupos sul- fidrila são vulneráveis à oxidação e, portanto, suscetíveis ao ozônio, devido ao seu poder oxidante. Os peróxidos criados pela administração do ozônio oxidam as cisteínas e mostram efeitos antivirais que podem servir para reduzir a carga viral [15,16].

A ação imunológica do ozônio está dirigida fundamentalmente sobre os monócitos e linfócitos T, os quais uma vez induzidos, liberam pequenas quan- tidades de citocinas, tais como: interferon-gamma (IFN-y) fator de necrose tu- moral (TNF) e interleucina-2 (IL-2). A atividade moduladora da inflamação e a melhora da oxigenação nos tecidos, em combinação com a indução da ativação de anticorpos e citocinas, ajudam a estruturar a resposta imunológica de com- bate a diversos tipos virais [10,16].

Figura 1. O mecanismo oxidativo de ação do ozônio. Fonte: adaptado de Sciorsci et al. [11]. O- Ozônio; H2O- peróxido de hidrogênio; 4-HNE - 4-hi- droxinonenal; Nrf2 - fator nuclear eritroide 2 relacionado ao fator 2; SOD - superóxido dismuta- se; GSH-Px - glutationa peroxidase; G6PDH - glicose-6-fosfato desidrogenase; HSP-70 - proteína de choque térmico 70; HO-1 -hemoglobina oxigenase 1.

A terapia com ozônio pode ser potencialmente útil para infecção por SARS-CoV-2 em duas categorias terapêuticas: desinfecção de superfícies [14]; ou no uso sistêmico como composto adicional, a fim de melhorar o estado de saúde dos pacientes e reduzir a carga viral [17]. O mecanismo de ação já foi comprovado em outras infecções virais e envolvem: 1) indução da adaptação ao estresse oxidativo, com restauração do equilíbrio do estado redox das células; 2) indução de IFN-ye citocinas pró-inflamatórias; 3) aumento do fluxo sanguíneo e oxigenação dos tecidos dos órgãos vitais; 4) além de poder atuar como uma autovacina quando administrada de forma sistêmica na forma de uma auto-he- moterapia [17].

Este é um momento de vigilância, de bom senso e de investigação cien- tífica [2]. Alguns estudos clínicos utilizando ozonioterapia estão sendo reali- zados na China e Itália para determinar a eficácia desse procedimento como adjuvante no tratamento da COVID-19 [18,19]. Como não existem vacinas ou produtos farmacêuticos específicos para o tratamento dessa doença, a utiliza- ção de práticas integrativas e complementares, após uma avaliação criteriosa de riscos e benefícios, podem auxiliar no desenvolvimento de protocolos que permitam controlar a infecção e os distúrbios causados pelo SARS-CoV-2.

Referências

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2.Strabelli TMV, Uip DE. COVID-19 e o coração. Arq Bras Cardiol 2020. https://doi.org/10.36660/ abc.20200209.

3.Cascella M, Rajnik M, Cuomo A, Dulebohn SC, Napoli RD. Features, evaluation and treatment coronavirus (COVID-19). 2020 Apr 06. [Actualization 2020 Apr 06; cited 2020 Apr 22]. www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK554776/#article-52171.s8.

4.Brasil. Diretrizes para diagnóstico e tratamento da COVID-19. Brasília: Ministério da Saúde; 2020. [Cited 2020 Abril 22]. https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2020/April/13/ Diretrizes-COVID-13-4.pdf.

5.Guan WJ, Liang WH, Zhao Y, Liang HR, Chen ZS, Li YM et al. Comorbidity and its impact on 1590 patients with Covid-19 in China: a nationwide analysis. Eur Respir J 2020. [ahead of print].

6.Liu F, Xu A, Zhang Y, Xuan W, Yan T, Pan K et al. Patients of COVID-19 may benefit from sus- tained lopinavir-combined regimen and the increase of eosinophil may predict the outcome of COVID-19 progression. Int J Infect Dis 2020;95:183-191. https://doi.org/10.1016/j.ijid.2020.03.013

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